sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Marias

os arrepios que a noite me provoca na pele
fazem-me crer que ainda estou viva
ainda respiro
e ainda tenho frio
mesmo que coberta de mantas de mil retalhos
gelam-me as mãos e os pés
como se não fossem os meus
como se não fizessem parte do meu corpo
deito-me na cama, nua
e afasto-me da janela
onde os estores até meio corridos
me deixam sonhar com uma vista
que não é a mesma de ontem
as minhas mãos estão mais vazias
a elas só pertencem
os comprimidos que me imagino a engolir
de olhos fechados
os copos de álcool sucessivos
que me arranham na garganta
e a deixam seca
encontro-me num labirinto
de ruas onde não passam carros
nem pessoas
onde não há parques de estacionamento
nem jardins
onde não há lugar para noites de verão
nem cigarros ardidos
uns depois dos outros
perdi-me no fumo
no verde do teu labirinto
que nunca foi nosso
entre danças
e a música que só eu ouvia
um ódio que só eu sentia
a luz da tua lanterna
só projecta sombras na escuridão
e já nem as chamas das fogueiras
têm cor
ou me dão calor
oferecem-me imagens desfocadas
raios de luz
e uma esquizofrenia inventada
que me faz alucinar
como um vício
de uma droga forte
que me prende
assim o fazes...
deixas-me atada de pés e mãos
a esta árvore de solidão
e fico lá até amanhecer
até acordar no meio do orvalho
livre
despida de ti!

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