terça-feira, 29 de março de 2011

entre 26 e 28

deito-me na cama
mais uma vez
contra as almofadas
e fecho os olhos cansados
surges na minha cabeça
como se de lá nunca tivesses saído
à primeira imagem tua
sinto um arrepio
que me percorre por inteiro
sonho
mais uma vez acordada
e imagino-te aqui
comigo
ouço um silêncio ensurdecedor
esmagado pela força de palavras
que não são ditas
por gestos contidos
e surge esta vontade enorme de te ter
que me reduz a esta condição humana
sinto-me fraca demais
para lutar
contra este desejo
que me consome
sinto o calor dos teus lábios
nos meus
imagino a sua doçura
a tua mão na minha
coincide no tamanho
e apenas se consegue diferenciar
pelas linhas que a caracterizam
falta-me o teu abraço apertado
e acolhedor
um coração que bata
à mesma velocidade do meu
preciso da vertigem das horas
que passam rápido demais
dos momentos eternizados
entre minutos
que no meu relógio
parecem parar
acabo por cair aos teus pés
fazes-me falta...

segunda-feira, 28 de março de 2011

contrariedades

canso-me de dar voltas
pelos mesmos sítios
onde já passei vezes sem conta
assustam-me as pessoas
que nunca são as mesmas
só a lua
me aguarda pacientemente
só as estrelas
me acompanham
nesta viagem sem rumo
ou destino definido
paro várias vezes pelo caminho
para escrever
cansada de sentir
magoam-me os pés
e dói-me o coração
queimo-me mais uma vez no alcatrão
onde ando sozinha
sinto o vento
que só à noite pertence
invadir-me
e arrepiar a pele de que me visto
faço-lhe juras de um ódio eterno
quebradas pela memória
de uma vida sem ti
prometo não voltar a sentir
não dar de mim
a quem não me quer receber
e engano-me, mais uma vez
invadem-me sentimentos
demasiado vincados
e a consciência
de uma racionalidade inexistente
quero soltar as amarras
que me prendem a um cais
que não é o meu
quero liberdade
para não depender de ninguém
respirar...
mas sou tua!

terça-feira, 22 de março de 2011

ao luar

acordo ao teu lado
como se estivesses sempre comigo
nesta noite
iluminada apenas pela lua
e a ingenuidade escondida
por detrás de um brilho próprio
que não abandona
o meu quarto
que me prende
entre paredes e janelas
onde sou tua prisioneira

deixas-me respirar
entre raios de sol
e uma brisa que me devolve
os suspiros que te prometi
encontro-me
entre passeios à beira-mar
caminhos que percorremos de mãos dadas
enches-me de dúvidas
que não me importo de coleccionar
definições encontradas
em gestos

entre nós duas
ergueram-se vidas
estranhamente familiares
a ambas
seguimos pegadas na areia
que nos levam ao encontro
uma da outra
onde minutos
parecem horas que não passam
beija-me
devolve a este coração
o batimento exagerado
de uma paixão desenfreada
que não consegue ser explicada...

quinta-feira, 17 de março de 2011

24/7 - 127

dar valor ao que temos antes de o perder
pessoas, sentimentos, a natureza e tudo o que nos rodeia...
dizer a quem é de dizer: gosto de ti!
guardar memórias do que fizemos bem
e recordar
guardar memórias do que fizemos menos bem
e fazer por melhorar
não guardar ressentimentos nem rancores
riscar a palavra odeio-te do vocabulário
crescer
aceitar erros cometidos
por nós e pelos outros
sorrir...
e aceitar o destino
mesmo que não acreditemos nele!
fazer aquilo que nos dá prazer
e encontrar algo de positivo
no que nos custa levar a cabo
inventar palavras
recorrer a outros gestos
respirar fundo
e ver
respirar outra vez
só para que o ar entre
caminhar, correr, dançar
ao sol e à chuva
sonhar
e sentir...

terça-feira, 15 de março de 2011

não!

escrevo mesmo sem papel ou caneta
escrevo como respiro
e escrevo ao sabor de sentimentos
decoro palavras
que não me saem da cabeça
desde que entraste no meu coração
invento frases que nunca li
escrevo de dia
protegida pelo interior de um carro
onde me tranco
escrevo de noite
no escuro e no silêncio
assaltada pelo desejo de te ter
nem que seja em sonhos
e passam sons por mim
sons que não vejo
porque penso em ti
pessoas sem uma identidade definida
e sombras de várias cores
acorda-me a chuva
que bate suavemente na janela
como um sussurrar de palavras doces
aceito-a
sem medo de me molhar
de braços abertos
e com um sorriso
porque sei que não vais tardar a aparecer!

segunda-feira, 14 de março de 2011

animosidade

Em dias de chuva escolho-te a ti
Entre rostos de uma multidão que desconheço
E se ri para mim
Brilhas como o sol de inverno
E aqueces esta minha alma
Outrora fria e sem salvação
Encontro-te entre o aroma de velas que trago em mim
No meio da escuridão
Onde só tu me iluminas o caminho
Entre mares tumultuosos e navios naufragados

Não te quero inventar
Quero conhecer-te
E adivinhar-te
Dar-te a mão
Pegar na tua
Como se ela sempre tivesse sido minha
Quero que me pertenças numa noite sem sono
E que me devolvas um sorriso rasgado
Numa lágrima perdida

Não quero sentir a tua falta
Quero que me provoques
Com a maldade vã
Que se evapora
Entre as palavras que me segredas ao ouvido
Quero voar
Perder-te em gestos que te prendam a mim
E reencontrar-te num abraço apertado
Sentido

A tua beleza é uma hipérbole de emoções
Onde me inspiro
E escrevo estas palavras
Banais talvez
Ao lado do que sinto
Escrevo com o coração cansado
De bater por ti
De te procurar
No porto de abrigo que construí para nós

Sou indubitavelmente tua
A ti pertence-te
Uma ingenuidade mascarada
Com a alegria que me devolveste
Estes lábios que aguardam os teus
E um suspiro solto no ar
Entre promessas de uma vida inteira junto a ti…