terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

imagens proibidas

tenho dificuldade em perceber certas imagens
admiro-as mas nunca as percebo totalmente
por vezes junto todas essas imagens
que me encadeiam
e crio uma história
um sonho quase perfeito
e respiro-o
como se o ar fosse remédio
e bebo-o
o mesmo álcool
que outrora curou feridas
ou deu luz à escuridão
inibo-me de mim mesma
e torno-me sociável
sinto o meu corpo
mais do que nos outros dias
mais do que é normal sentir
quando não se sente
e sento-me no escuro
sem teorias
nem uma ciência exacta
procuro (num esforço contínuo)
ser responsável por mim
e como tal
não devo responsabilidades a mais ninguém
vivo numa ignorância
que não consigo eliminar
e partilho-a
com todas as pessoas que passam na minha vida
em mudança constante
porque raramente somos a mesma pessoa
ao acordar
do que éramos quando nos deitámos
e como são dolorosas
as surpresas que não conseguimos evitar
a verdade é que
só podemos ser alguém quando não somos ninguém
a realidade é uma fantasia
e o amor um desengano
resta-nos a música
na sua fragilidade imensa
por isso
prefiro não saber o que os outros não sabem
já vem em demasia a informação
que mais valia nunca saber
agonia-me o poder da solidão
o facto de nem as nossa memórias nos pertencerem
levam-nos para onde não queremos
e encontram-nos onde não pedimos para ser descobertos
volto atrás
sonho mas quando acordo
as imagens que guardava desapareceram
e eu esqueci-as...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

insónias

as tuas palavras são como bombas
e o teu odor remete-me a um pomar
cheio de fruta em flor
é incrível como o mundo
está cheio de coisas que estão a mais
e o que não nos é banal
temos de procurar
como um tesouro...
suponho que tenha graça assim
mais uma partida
um trecho
ou a citação
de uma anedota de humor negro
curioso que tenhamos de andar às voltas
para encontrar
o que nos é indispensável
e tudo o resto
aquilo que preferimos ignorar
surge à nossa frente
no reflexo de um espelho
ou entre a paisagem
e rapidamente se torna familiar
deixa de nos incomodar
o que faz com que lentamente
deixe de fazer diferença
se acomode na nossa vida
sem querermos que desapareça
as tuas palavras são gentis
como uma carícia
mas o teu cheiro é nauseabundo
e incomoda-me...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

the pursuit

hello innocence
would you care
if i said you're the only melody
i can't seem to forget
the one shadow
that follows me 'till the end of the night

it's a warning
i don't think i want you to go
so stay and cry with me
take a little time for me
when the music stops
will you still be here with me?

it's a mistery
will the morning come
with the sweetness of your voice?
or will i wake up alone
putting up together
the pieces of my lonely frame

i won't mind
if you're not here
no one will harm me
of that i'm clear
i'll remember everything
i thought my life was going to be
now all i do is forget
all the things i never achieved
the world is full of roads
and cars with no backseats

if you dare
take some time
and read through your mind
be in love with the blind
write a bitter song
be lost
until you're found
and smile in the meanwhile!

domingo, 13 de fevereiro de 2011

em fim...

se quisesse explicar o que sou
não sei
se quisesse explicar o que sinto
não consigo
abomino a fragilidade
que rodeia a minha vida
que abana a estrutura
onde em pé fico em desequilíbrio
tenho os pés molhados
das poças que me inundam por dentro
a chuva abundante
fria e desagradável
encharca-me a alma
e eu não sei nadar
caio em mim
e desfaço-me em mil pedaços
que não encaixam como um puzzle
tenho medo do amanhã
dos círculos que o vento dá à minha volta
estou perdida
mais uma vez
sem me encontrar
sinto a força de murros
no meu estomâgo
o ardor de unhas cravadas
na minha pele
o cheiro das lágrimas
e o sabor do sangue
sinto, enfim
tudo menos aquilo que queria sentir...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Marias

os arrepios que a noite me provoca na pele
fazem-me crer que ainda estou viva
ainda respiro
e ainda tenho frio
mesmo que coberta de mantas de mil retalhos
gelam-me as mãos e os pés
como se não fossem os meus
como se não fizessem parte do meu corpo
deito-me na cama, nua
e afasto-me da janela
onde os estores até meio corridos
me deixam sonhar com uma vista
que não é a mesma de ontem
as minhas mãos estão mais vazias
a elas só pertencem
os comprimidos que me imagino a engolir
de olhos fechados
os copos de álcool sucessivos
que me arranham na garganta
e a deixam seca
encontro-me num labirinto
de ruas onde não passam carros
nem pessoas
onde não há parques de estacionamento
nem jardins
onde não há lugar para noites de verão
nem cigarros ardidos
uns depois dos outros
perdi-me no fumo
no verde do teu labirinto
que nunca foi nosso
entre danças
e a música que só eu ouvia
um ódio que só eu sentia
a luz da tua lanterna
só projecta sombras na escuridão
e já nem as chamas das fogueiras
têm cor
ou me dão calor
oferecem-me imagens desfocadas
raios de luz
e uma esquizofrenia inventada
que me faz alucinar
como um vício
de uma droga forte
que me prende
assim o fazes...
deixas-me atada de pés e mãos
a esta árvore de solidão
e fico lá até amanhecer
até acordar no meio do orvalho
livre
despida de ti!

sábado, 5 de fevereiro de 2011

um partir tão doce

queria ser a primeira a partir
queria proibir todos
(fossem quem fossem)
a partirem antes de mim
avisem-me por favor
quando estiverem para partir
porque quero antecipar-me a vocês
só segundos antes
não importa
não vos quero dar o prazer de acabarem comigo
de me matarem um pouco dentro de vocês
não quero esta fragilidade
que faz de mim prisioneira
que me faz estar sempre presente
não quero que me levem com vocês
deixem-me ir antes por favor...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

carta: saudade de uma fúria feliz

olho para o branco das paredes que me rodeiam
recordo histórias de amor
e valorizo a ilusão das mesmas
sinto-me passar pela vida
rapidamente, sem tempo para ficar
ninguém sabe o que me acontece
porque ninguém me conhece
já perdi o medo de me perder
em labirintos por mim criados
a vida não é para viver sozinha
mas ainda assim sou capaz de o fazer
não tenho de fingir
posso gritar as vezes que eu quiser
e nem precisa de ser contra uma almofada
o meu corpo ocupa a cama
grande demais para estar vazia
falta-me companhia
mas fico mais sozinha
cultivo a solidão
estranhos como flores
num jardim florido mas sem cor
fecho os olhos
e ouço vozes
não passam disso
talvez apenas ecos dos meus próprios gritos
é um mistério
se continuo a dar valor ao que não se pode comprar
se espero por quem por mim não espera
encadeia-me a luz do mundo
onde me sinto pequena
onde sei que não vou crescer

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

somos assim

não passamos de bichos
cheios de instintos e manias
o nosso corpo não obedece à nossa mente
e a nossa mente só obedece ao coração
fazemo-lo com medo do tédio
de bocejar de sono ou cansaço
gostamos do que nos faz mal
e vemos a história a repetir-se
como se fossemos um qualquer espectador
entediado com o desenrolar dos acontecimentos
e damos voltas à volta de nós mesmos
na esperança de ver algo
que nos desperte a atenção
na esperança que a paisagem mude
crescemos, surpreendentemente, neste ambiente
por vezes cheios de dores de cabeça
obrigamos o corpo a um esforço
a que ele naturalmente cede
e zangamo-nos com os amigos
com os desconhecidos
com quem nos ama
e com quem desconhece o que é amar
zangamo-nos connosco próprios
porque nos zangámos
e vivemos
acumulamos memórias
fotografias mentais
às vezes de cenários idealizados
outras vezes, amores e dores
pessoas das quais sempre nos lembrámos
sem saber bem porque

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

HAPPY

o ser humano é um ser evoluído
já não tem que se preocupar se faltarem lápis
já não precisa de inventar papéis
tem tudo à distância de um toque
não vem com manuais
e muitas vezes ao longo da sua vida
altera as definições
faz "updates"
já invejei, confesso
a simplicidade dos "gadgets" com que me rodeio
e sei que há mais quem pense assim, como eu
seria fácil controlar-me à distância de um "clic"
colocar em mim um simples "não incomodar"
enquanto me dedicava a uma espécie de hibernação interior
chamem-me os nomes que quiserem, que houver para me chamarem
mas admito que em alguns momentos da minha espécie de vida
gostaria de fazer "pause"
evitar situações embaraçosas
ignorar perguntas idiotas
como uma qualquer lâmpada ter direito a um "on/off"
mas o único descanso a que temos direito
equivale quase sempre a umas horas de sono
(na sua grande maioria escassas)
e quando acordamos
volta a vida connosco
os problemas
e os filmes que queríamos que tivessem chegado ao fim
mas que ao que parece são daquelas sagas intermináveis
e nem a pipocas tivemos direito
sim, é certo que por vezes hiperbolizamos
o que se passa à nossa volta
outras vezes, o filme é mesmo um drama
e o único intervalo a que temos direito
é quando morre a personagem principal
sou adepta de finais inesperados até trágicos
o que de certo modo não ajuda à tristeza que sinto
aos dias mais sombrios
onde todos os pensamentos vão dar a um beco sem saída
mas rodeio-me dos poucos amigos que julgava não ter
penso no prazo de validade dos estados de espírito
e envolvo-me em clichés do tipo: "o tempo cura tudo"
não abdico de um egoísmo saudável
respiro fundo
e dou as boas vindas a um novo amanhecer!