segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Domingo

mais uma vez sou assaltada pelas saudades do desconhecido
do que não vivi
das palavras que nunca me disseste
mas que ainda assim as ouvi
ouço a canção que me dedicaste
e que demorei algum tempo a perceber porquê
estarei a ficar demente ou estarás tu realmente aqui?
são tuas as mãos frias que despem
este corpo quente de te sentir
é teu o aroma que rasga
esta alma dormente e febril
serão teus os poemas que leio
e enchem a minha cabeça de sonhos
ou invento prosas e rimas
na busca de sentimentos novos
não te quero deixar ir
pois sei que demoras a voltar
o caminho é longo
e a noite infinita...
prendo-te antes em mim
com laços de fita em cetim
quero perceber o teu corpo
e memorizar-te no fim
mas insistes em fugir
e deixar em minha companhia a saudade
e a angústia de te ver partir
traz de novo a crueldade
de um fim de dia chuvoso
em que nem as folhas podemos partilhar
só caem do céu as lágrimas
que na minha pele se querem secar

domingo, 30 de janeiro de 2011

28

os dias passam e sem que consigas perceber
passam semanas, meses, anos
os minutos alternam-se entre sorrisos e lágrimas
entre um "odeio-te"
e um "quero-te aqui"
ainda que permaneças no teu castelo
os muros não prendem o teu aroma
o teu riso prolonga-se no ar
e o teu toque é trazido pelo vento
arrepia-me a pele e aquece-me
como se estivesses sempre junto a mim
como se nunca tivesses partido
como se o meu coração nunca tivesse sido partido
mas não passa de um sonho
ainda são precisos percorrer quilómetros
atravessar o mar
perceber as pontes
e adivinhar-te a ti
acima de tudo magoar-me a mim
e pelo caminho vou negligenciando
outros desejos
desprezando necessidades de afecto
afastando-me do calor humano
de uma boca que não é a tua
de uns lábios que não são os teus
de um toque áspero
que as minhas mãos repelem
porque não me relembram o teu jeito suave
porque não me envolvem como tu o fazias
por não seres tu...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

preferidos

não somos senão uma casa com a porta aberta
constantemente invadida
por pessoas que não conhecemos
nem se dão a conhecer
somos tristes
carregamos dor
como o mês de inverno carrega o frio
e escrevemos
apenas para nos livrarmos
dos fantasmas que se deixaram ficar para trás
quando estamos sós
sentimos que o mundo escapou
e que não merecemos ninguém
porque nem nos merecemos a nós
percorremos com imaginação
tudo menos o que aconteceu
e o tempo passou por nós
uma vez mais indiferente
não percebes que aguentamos o silêncio
precisamos dele
como tu precisas de desabafar
de passar horas sentada
a escrever coisas
que depressa deixam de fazer sentido
não merecias fugir
das coisas que estão dentro de ti
dentro de nós
mas não te vamos pedir para ficar...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

tirania

não gosto das tuas qualidades
elas aborrecem-me, são entediantes
gosto do que é teu
gosto de ti
gosto dos teus defeitos
não há nada de mais genuíno
do que aquilo que não é aprendido
do que aquilo que não muda
o que nem sempre dás a conhecer
mas que é tão teu
mais teu do que aquilo que me faz sorrir
gosto que me dês atenção
mas adoro que me desprezes
que me corrijas
que me faças sentir que não te mereço
que sou insuportável...
podias-me contar uma história
que não fosse a minha...
tenho saudades
saudades dos dias antes do dia chegar
tenho saudades do medo
da liberdade que sentia
a intoxicação de sentimentos
e da dor
e de sobreviver
e de dizer que tinha saudades de ti

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

muito, meu amor 2.

estou deitada, de olhos fechados
sinto a relva por debaixo de mim
a humidade da terra
e o peso do mundo
abro os olhos
e só existe céu
onde passeiam nuvens à deriva
e pergunto-me: onde estou?
as horas passam e pesam em mim
no meu coração já não há lugar para os minutos
nem lugar para ti
não tens culpa de ainda te procurar em mim
de me ferirem palavras vãs
de ouvir o teu nome e não saber de onde vem
faz-me falta um abraço
um poço onde secar estas lágrimas que não caem
onde te procuro mas só me encontro a mim
por mais pequeno que seja o mundo
por maiores que sejam as janelas
encontramo-nos no meio
entre lembranças
sentimentos esquecidos, apagados, cansados
encontramo-nos entre expectativas e decepções
entre um amor que partiu e outro que não volta
e deixamo-lo morrer... até ao fim sem o merecer

muito, meu amor 1.

os teus olhos brilham mais do que as estrelas no céu
e as tuas lágrimas reflectem mais do que o luar
os teus lábios são doces e macios
e o teu sorriso, a melhor parte do meu dia
penso em pétalas de rosa
de um vermelho tão negro, tão sentido
que não consigo encontrar o fundo
penso em palavras que caiem do céu
que as sopra o vento
em palavras sem sentido gravadas na minha alma
e num papel qualquer
outrora perdido
penso em tanta coisa
e não penso em nada em concreto
trago-te em mim
na ponta da minha língua
tenho sede
mas anseio por ti
só tu me ocupas dos pés à cabeça
és o ar que foi
e que volta mas diferente
vazio...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

patinho feio

Arrisco-me a dizer que quase toda a gente conhece a história, mas não é a minha ideia contar-vos a história, longe de mim, mas disseca-la e quem sabe dissertar um pouco sobre a mesma… Não em termos de moral, para além de isso já ter sido feito por uma percentagem relativamente grande de pessoas por esse mundo fora em todas as línguas possíveis e imaginárias, quem sou eu para o fazer?
Mas recordemos as personagens principais:
O patinho feio – que pode ser personificado por qualquer um de nós, quer seja por sermos ou por nos acharmos feios, maus, diferentes ou simplesmente por não encaixarmos nos padrões impostos pela sociedade, também conhecida por família mais próxima… E o que devemos ser é qualquer coisa diferente daquilo que somos, não devemos ser da maneira que nos faz feliz ou mesmo da que achamos estar certa, somente da maneira politicamente correcta que no futuro nos encaixará lá nos seus ideais.
O/os cisne/cisnes – uma vez mais podem ser personificados por nós, quando temos a sorte (ou não) de ser aquela pessoa que se acha o máximo e por conseguinte que acha que o mundo deve rodar à sua volta. Também e o mais comum na maior parte das vezes, é que seja personificado por alguém da tua família, do teu núcleo de amigos, colegas, um amante ou apenas conhecido. Normalmente o cisne é conhecido também por aquele que odiamos amar ou amamos odiar… (aparte: mágico como estas duas palavrinhas se encaixam tão bem uma na outra embora sejam totalmente opostas)
E partindo destas personagens colocam-se uma série de questões, entre elas: És um patinho feio ou um cisne? Poderás ser ambos? Quem gostarias tu de ser?
E como quase em todas as histórias de ficção ou da vida real, existem pelo menos duas versões diferentes para o mesmo enredo, que se prende substancialmente pela diferença na forma como estas acabam…
Serás tu o patinho feio, que não se identifica com aqueles que o rodeiam, que muitas das vezes se olha ao espelho e não percebe o que vê, que é triste, mal amado ou simplesmente sozinho?
Ou serás o cisne, que se rodeia de quem o admira por aquilo que ele é, que gosta de se ver ao espelho, de ser bonito e feliz?
Quem preferias ser? Ou poderás ter um bocadinho de ambos? Um cisne com alma de patinho feio ou um patinho feio com máscara de cisne?
É o patinho feio uma metáfora para tudo aquilo que escondes dos outros por não ser tão agradável à vista? Os pensamentos negativos, a baixa auto-estima, o medo de não ser aceite, de nunca ser feliz, de enfrentar a solidão num mar de multidão?
A verdade é que não importa quem és… O que realmente importa é o final que escolhes para a tua história… Vais ser o patinho feio que cresce e se torna num belo e maravilhoso cisne? Ou vais ser o patinho feio que cresce, aceita quem é e aprende a ver nos outros, pessoas iguais a si próprio?
Dá que pensar… Afinal de uma maneira ou de outra, por um período maior ou mais curto de tempo, houve, há ou vai haver uma altura na nossa vida em que nos vamos sentir como um patinho feio!

sábado, 22 de janeiro de 2011

you'll never walk alone

Dou por mim por vezes a querer ser autista
Ouvir e memorizar sons
Ver e perceber cores
Valorizar tudo o resto que me rodeia em detrimento de afectos
De alguma forma, sinto que sempre fui assim...
Diferente ou apenas tímida e reservada
Capaz de dar e receber afecto
No entanto, como que fechada em mim própria
Quando me pedem mais do que consigo dar
Quando é necessária intimidade
Talvez a vida fosse mais fácil se se limitasse a um conjunto de imagens
A um plano pré-definido
Um raciocínio lógico e determinado
Algo fácil de gerir e entediante portanto
A morte seria apenas um recordar
Um desenrolar de memórias em jeito de slide
Sem lágrimas, sem dor
Assim como quando morresse um amor
Continuaria a existir uma mente brilhante
Um conjunto infinito de portas a atravessar
Que te levariam por um caminho
Conturbado talvez mas seguro
Como um abraço...